Introduzido talvez pelos mouros, na Europa, o Truco teria se popularizado no Brasil pelos jesuítas e por imigrantes portugueses, espanhóis e italianos entre outros, nas versões inglesa, espanhola e francesa cujo valor das cartas e maneiras de jogar variam, e é hoje um passatempo obrigatório na segunda fase do churrasco onde homens e mulheres, já tocados pelo álcool, terminam a algazarra com belas partidas e insultos alegres.
O bom jogador de truco sabe que além das cartas, vale a potência de seu gogó. Quanto mais alto for o grito e mais bagunça fizer à mesa insultando o inimigo, mais possibilidade terá para ganhar o jogo, o que nos leva a acreditar que a enganação, o ludibrio e a esperteza do jogador são fatores talvez mais importantes que as próprias cartas. No truco vale a audácia!
Pelo que se viu nos jornais durante os últimos quatro anos, a considerar pela força de seu gogó, tivemos um bom jogador de truco a comandar o Brasil. Qualidade prodigiosa porque seus berros e murros na mesa espantou e pôs a escanteio muita gente acostumada à mamata. Com belas cartas nas mãos à vista de todos e outros tantos ‘zaps’ que dizia ter sob a manga, era o dono do jogo, da banca e adjacências. No dizer do Erasmo Carlos, um Tremendão que vencia todas!
Uma festa aos olhos dos parceiros que ao tempo que jogavam, torciam para que o jogo daquele saísse perfeito a ponto de arrematar a partida numa só jogada. Ou, quando muito numas poucas, com a maestria e pouca elegância que o jogo de truco exige. Sim, o truco não é um poker que obriga compostura, silêncio, galantaria, louçania, primor, não, o jogo de truco por ser o jogo de homens rudes que se dizem machos com X maiúsculo, imbrocháveis de caráter barulhento, espalhafatosos, extravagantes, trouxe para seus correligionários a credulidade de que tudo o que ele falava e dizia fazer, se transformava em realidade.
Criou-se com isso verdadeira torcida uniformizada de pessoas que até desviaram recursos do orçamento doméstico para se fazerem iguais aos demais, à qual se uniu de caminhoneiros a motociclistas e do mais simples ao mais abastado cidadão a percorrerem o país sob céus de brigadeiro, por terem um jogador à altura de suas necessidades e querência.
E foi tão grande a aclamação a cada jogada que jamais imaginariam que um dia isso poderia acabar. Sim, porque o truco em sendo um jogo depende da sorte, e essa virou depois de 32 anos de jogatina exitosa, em data certa e acabada: 30 de outubro.
Hoje, infelizmente, a multidão de cara pra cima como se caçasse pokemon, se pergunta se aquelas ditas cartas na manga eram ‘zap’ de verdade ou somente “3 de espadas” que, na modalidade jogada, não tinham valor algum.
Outra hipótese, é bom que se diga, é a de que sua falácia exposta em timbre de voz alto e estridente era crível por ser verdadeira, ou só o efeito do seu gogó de bom jogador.