A fé veio ao nosso encontro quando fomos batizados e a recebemos de maneira infusa e gratuita, sem mérito nenhum de nossa parte. Compreendemos que ter fé significa entrar na órbita da revelação do projeto de Deus, levado a efeito por seu Filho Jesus Cristo. A fé é então um acontecimento que concerne à pessoa toda e lhe permite entrar no universo da aliança com Deus; é um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, reconhecido como Deus que vem salva e reúne.
A cura do cego de nascimento (Jo 9,1-7) permite a Santo Ambrósio falar da capacidade dada pelo Batismo de ver o invisível. Após o milagre, o que era cego começou a enxergar, com a visão humana, as coisas deste mundo. Porém, o grande milagre aconteceu quando, iluminado pela fé, passou a ver não somente com os olhos do corpo; por isso, reconhece Jesus como Messias. “Disse-lhe Jesus: ‘Crês no Filho do Homem? ’. ‘Quem é Senhor, para que eu nele creia? ’ Jesus lhe disse: ‘Tu o estás vendo, é quem fala contigo’. Exclamou ele: ‘Creio, Senhor1’. E prostrou-se diante dele” (VV. 35-37).
Cristo manda o cego lavar os olhos na piscina de Siloé (= enviado). Agora, nos diz Ambrósio: “vai àquela fonte em que o Cristo redime os pecados de todos” – refere-se à fonte batismal. Cristo é a fonte, o enviado e a luz. Aquele que foi batizado passa a enxergar com os olhos do coração o mistério de graça e de salvação realizado no sinal do sacramento. Por isso, o Batismo é também chamado de iluminação, porque concede a luz da fé; em conseqüência, os batizados são denominados “FIÉIS”. “Tu, que anteriormente parecias cego de coração”, por Cristo, e através do Batismo te redimiste do pecado, purificaste os olhos e “TE PUSESTES A VER A LUZ DOS SACRAMENTOS”.
Aqueles que conheciam o cego lhe diziam: “como, pois, te foram abertos os olhos?” (v. 10). De outra parte, responde o santo mistagogo aos recém-iluminados: “TOMASTES PARTE DOS SACRAMENTOS E TENS PLENO CONHECIMENTO DE TUDO, UMA VEZ QUE ÉS BATIZADO EM NOME DA TRINDADE”.
“Tu foste. Tu te lavaste. Chegaste ao altar. Começastes a ver o que antes não havias visto, quer dizer: pela fonte do Salvador e pela pregação da Paixão do Senhor, se te abriram os olhos.” Agora seus olhos foram iluminados e enxergam mais que o simples pão, mais que o simples banho; está capacitado para participar nos últimos e mais nobres mistérios, tem acesso ao altar.
Os sacramentos são “MOMENTOS DE LUZ” na vida do cristão: cada um deles faz brilhar a luz do amor do Pai em forma e densidade diferentes. Não é à toa que os Padres da Igreja chamavam os batizados de fotizomenoi = iluminados! Comparação que pode ser estendida à ação de todos os sacramentos.
O Senhor se dá a conhecer espiritualmente através dos sinais sacramentais, que somente são reconhecidos mediante a fé. “A nós, porém, na plenitude da Igreja, importa compreender a verdade. Já não por um sinal, mas pela fé.” Ambrósio considera a sublimidade da fé, que conduz à eternidade, mais importante do que todas as realidades existentes: “Tu que deve a fé ao Cristo guarda esta fé, muito mais preciosa que o dinheiro. De fato, a fé equivale a um patrimônio eterno”.
Ter fé é decisivo para acolher a graça que os sacramentos oferecem. A luz da fé faz enxergar a ação salvadora de Deus. Assim, o simples banho batismal passa a ser a imagem da morte e ressurreição de Jesus. “Se formos identificados a ele por sua morte, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição” (Rm 6,5).
O cego de nascença adquiriu tanto a visão física quanto a visão da fé. Tendo sido procurado por Jesus, e dando-se conta de tratar-se do Messias, prostrou-se diante dele, fazendo sua confissão de fé: “Eu creio Senhor!”.
O cego passou por um processo de mudança (iluminação): não sabia, nem conhecia; não enxergava e passou a ver. Reconhece que foi Jesus aquele Homem quem o curou. (v.11) Depois confessa é um Profeta; (v.17) reconhece que Ele vem de Deus; (v.33) e a confissão de fé; Senhor. (v.38).
Que neste caminhada quaresmal deixemo-nos lavar pela “ÁGUA” do Enviado, e nos “ILUMINAR” pela Luz, para que o nosso olhar se purifique e a nossa visão possa ver a Verdade, para celebrarmos a Páscoa do Senhor renovados.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.