*Clarice Gomes Costa
Aproxima-se o término letivo e um considerável número de estudantes da educação de jovens e adultos (EJA) não sabe em que escola estudará no próximo ano, pois diversas delas fecharão nos municípios cearenses, como Fortaleza e Maracanaú, sob a justificativa de que não existe alunos suficientes para o funcionamento.
Essa informação chega por intermédio dos professores e professoras da modalidade EJA e causa indignação, ao tempo que refletimos com base na música Cidadão, de Zé Ramalho, a negação de direitos os quais esses estudantes são submetidos. A canção diz: “ – Tá vendo aquele colégio, moço? Eu também trabalhei lá. Mas me diz um cidadão, criança de pé no chão, aqui não pode estudar”. Parafraseando a música, afirmo: “ Mas me vem alguém da Secretaria de Educação e me diz que, o jovem e o adulto, aqui não pode estudar”.
Os sujeitos da EJA que constroem com sua força de trabalho a riqueza das cidades. Homens e mulheres moradores das periferias, trabalhadores precarizados ou desempregados que não tiveram acesso à cultura letrada, os excluídos da escola, submetidos a toda forma de exploração e desumanização, decorrentes de um sistema capitalista opressor que gerou historicamente o analfabetismo nesse país.
Por outro lado, o poder público se justifica afirmando que desenvolve ações para sanar essa realidade, como busca ativa escolar a fim de garantir o retorno dos estudantes às salas de aula e estratégias pedagógicas com vistas a fortalecer a aprendizagem destes, conforme noticiou a imprensa, referindo-se ao município de Fortaleza.
Porém, a EJA caminha entre o dito e o feito. Nossa prática na escola pública mostra que a busca ativa não acontece com mesmo empenho para o período noturno, horário em que geralmente funciona a modalidade; verificamos ausência de uma coordenação pedagógica específica para acompanhar a modalidade. Em suma: não existe uma política educacional pensada exclusivamente para enfrentar o desafio de trazer de volta à escola os não-escolarizados.
Eis, portanto, o desafio para o atual governador eleito do nosso Estado: garantir o acesso e a permanência de toda gente na escola, como preconiza a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
*Clarice Gomes Costa é doutora em Educação, Professora dos municípios de Maracanaú e Membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA Ceará