O Brasil se apresentou na Conferência do Clima da ONU, realizada no Egito, como parte da solução global para a criação de uma nova economia verde. A afirmação foi feita pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em reunião do COSAG, o Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp. O ministro acrescentou que a agricultura tropical brasileira é a mais regenerativa do mundo: “temos muito a contribuir globalmente no que se refere à expertise na produção sustentável de alimentos e energias renováveis”.
No encontro, presidido por Jacyr Costa Filho, Leite abordou os principais pontos defendidos pela delegação brasileira na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), em novembro, na cidade egípcia de Sharm el Sheikh. Segundo Leite, os principais pontos debatidos pelos representantes do País durante o evento foram a busca de um consenso sobre o mercado global de créditos de carbono, o incentivo ao estabelecimento de acordos de remuneração por serviços ambientais, o aumento de iniciativas multilaterais voltadas à redução das emissões de metano, e a efetivação do fundo de “Perdas e Danos” para compensar financeiramente os países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Jacyr Costa lembrou a importância da manutenção a aperfeiçoamento de programas fundamentais para a infraestrutura de produção agropecuária no País, em especial o Plano Nacional de Fertilizantes, lançado no primeiro semestre deste ano. “O fornecimento de insumos agrícolas é o calcanhar de aquiles do agro brasileiro. Hoje o Brasil importa quase 90% dos fertilizantes que consome anualmente, isso com uma produção recorde de 300 milhões de toneladas de grãos. Em oito anos, com a produção estimada em 400 milhões de toneladas, este Plano antecipará necessidades futuras, prevenindo o Brasil de sofrer tanto com a dependência externa, que passaria para 60% em 2030.
Costa, que também é sócio da Consultoria AgroAdvice, igualmente fez referência ao Programa RenovaBio, em vigor desde 2019. “No setor automotivo, é preciso continuar valorizando o Renovabio, o maior programa de descarbonização de transportes no mundo”, ressaltou.
Energia Verde
Falando para uma plateia composta por lideranças políticas e do setor agropecuário, o ministro destacou o esforço em levar à plenária da COP27 as “energias verdes” brasileiras. “O objetivo foi demonstrar as ações reais já em curso, desde a agricultura de baixo carbono à geração de energia verde baseada em fontes como biomassa, solar e eólica. A comunicação é estratégica na promoção da imagem dos nossos produtos e energias renováveis, inclusive para evidenciar o nosso potencial na produção de hidrogênio verde, que pode ser exportado para o mercado europeu, onde a demanda é grande”, explicou.
Mercado de Carbono
Sobre a regulação de um mercado de crédito de carbono, Joaquim Leite disse que as tecnologias e boas práticas do agronegócio nacional devem ser levadas em consideração para a definição de parâmetros para esse mercado. “O tema tem ganhado cada vez mais relevância e o carbono se tornará um dos maiores ativos da agricultura nacional”, enfatizou.
Serviços ambientais
Leite também discorreu sobre um acordo firmado entre Brasil, Congo e Indonésia, os maiores países com florestas tropicais do mundo, para a definição de critérios com padrões globais para remunerar aqueles que protegem florestas nativas ao redor do mundo. “Estamos desenhando esta estrutura, que começa com o carbono, um ativo já reconhecido, mas que depois passa por biodiversidade, água, solo, microclima, ou seja, todos os atributos que um hectare tem”, observou.
Resíduos
Outra proposta levada pelo Ministério do Meio Ambiente à COP27 foi o desenvolvimento de um mercado de créditos de metano, nos moldes do mercado de carbono, porém focado exclusivamente em resíduos orgânicos gerados nas cidades. “A iniciativa pode atrair financiamentos privados e gerar receita extra para todo o setor que trabalha com compostagem, fabricação de biodigestores e até mesmo usinas que produzem biogás e biometano. Seria muito oportuno para reduzir as emissões de um país (Brasil) que trata somente 1,5% dos seus resíduos orgânicos”, avaliou Joaquim Leite.
Fundo climático
A respeito da criação do “Fundo Perdas e Danos”, o principal acordo alinhado na COP deste ano, o ministro afirmou que o Brasil, juntamente com o G77, China, África do Sul e Índia, apoiou a decisão, mas que ainda aguarda definições sobre valores e como serão feitos os aportes financeiros.
Insegurança Alimentar
A insegurança alimentar, problema agravado pela pandemia da covid-19 e a guerra na Ucrânia, foi abordada pela futura representante do Brasil na Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), a embaixadora Carla Barroso Carneiro, que ficará sediada em Roma, na Itália. A diplomata trouxe números impactantes sobre a fome no mundo. “Cerca de 15% da população mundial enfrenta insegurança alimentar em níveis leve e moderado ao grave. São 980 milhões de pessoas, sobretudo no leste da África e no Sudeste asiático”, informou.
Carla Carneiro elencou três dos maiores desafios que terá pela frente a partir de janeiro de 2023, quando assume o cargo: primeiramente, buscar maior integração do País com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), um importante financiador da agricultura no mundo. Em projeto desenvolvido com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o FIDA canalizou US$ 217 milhões que serão destinadas a produtores espalhados em 80 mil hectares no semiárido brasileiro.
As duas outras ações consistirão em tornar referência mundial o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), que até 2030 deverá disseminar tecnologias de baixo carbono em mais de 72 milhões de hectares, além de incentivar a maior participação dos institutos de pesquisa brasileiros em estudos da FAO.