*Carlos Henrique Mencaci
A nova geração está alcançando a idade de ingressar no mercado de trabalho. No entanto, esses jovens têm pensamentos, personalidades, ideias, propósitos e objetivos bem diferentes dos integrantes atuais dos quadros corporativos. Um fator determinante nessa mudança de percepção sobre o mundo foi a pandemia. Nesse sentido, o estágio é o momento ideal para moldar essas pessoas para o ambiente empresarial e preparar os futuros gestores do país. Vou discorrer sobre a relevância dessa prática.
Um grande líder é formado por desafios enfrentados ao longo da estrada profissional, ensinamentos e convívio com colegas exemplares. No entanto, para quem nunca teve a vivência nesse universo, é mais complexo entender o funcionamento. Por isso, o ato educativo supervisionado é fundamental para fortalecer essa parcela da população e, daqui a alguns anos, teremos grandes executivos espalhados pelo Brasil.
Os efeitos da Covid-19 afetaram toda a população, mas alguns sofreram mais com os impactos. Isso ocorre porque o isolamento social, aulas remotas e home office aconteceram na transição da adolescência para a vida adulta de diversos estudantes. Assim, muita gente ficou solitária e com dificuldade de socialização. Além disso, existem consequências práticas no aprendizado, pois diversas empresas não estavam preparadas para essa alteração na maneira de atuar.
Logo, as instituições de ensino assumiram um papel de protagonista no aspecto de retomar todas essas rupturas. Esse período foi crucial para o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, assim como ensinamentos pessoais e profissionais. Quando falamos de estágio, é um pilar essencial, pois só pode participar da modalidade quem está regularmente matriculado no ensino médio, técnico, superior ou nos anos finais do fundamental, na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Afinal, tem o objetivo de inserir essa classe no mercado, mostrando a eles como é o cotidiano da profissão desejada.
Portanto, essa prática se torna ainda mais valiosa no momento atual. A conciliação entre sala de aula e corporação auxilia e evolui esse indivíduo. Para tudo ocorrer da melhor maneira, a Lei 11.788/2008 assegura alguns direitos cruciais. O discente tem a carga horária limitada em seis horas diárias e 30h semanais, sem a possibilidade de ultrapassar esse teto. A cada 12 meses na mesma companhia, o membro pode desfrutar de 30 dias de recesso remunerado. Nesse ponto, sempre aconselho a combinar com as férias escolares, permitindo um descanso completo.
De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 70% dos alunos relataram quadros de depressão ou ansiedade por conta do retorno ao ensino presencial. Sendo assim, esse movimento deve acontecer de maneira correta, cautelosa e sem pular etapas. As organizações, colégios e universidades também precisam se preocupar com a saúde mental desses jovens. Afinal, isso terá reflexo na sociedade e nos futuros executivos.
Em 2020, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 44 milhões de crianças e adolescentes passaram a estudar virtualmente devido ao Coronavírus. Desde 2021, com a flexibilização das medidas sanitárias e a retomada gradativa das atividades, a convivência presencial voltou a fazer parte das rotinas.
No entanto, cada colaborador tem suas particularidades, características e personalidade única. Além disso, a maioria dos integrantes da modalidade vivem essa experiência pela primeira vez e estão ali para aprender. Sendo assim, é fundamental os supervisores terem noção do seu papel e como cada atitude nesse contexto pode marcar aquele iniciante para sempre, seja de maneira positiva ou negativa.
Portanto, deve haver uma preocupação com a formação do cidadão e não apenas do funcionário. Para isso, é necessário começarmos a criar empatia, a consciência de se colocar no lugar do outro. Ou seja, se esforçar para tratar o colega como você gostaria de ter sido quando ocupava aquela posição.
Quando isso acontece, cria-se no outro a liberdade para tirar suas dúvidas, expor opiniões e sugerir novas ideias. Dessa forma, desenvolve-se dentro dele a capacidade de elaborar soluções e debater sobre assuntos corporativos. Assim, além de aumentar a chance de construir um bom networking, pode levar inovação para sua companhia.
Contudo, desse momento difícil também surgiram boas alternativas, como a opção do modelo remoto. Ele proporciona vários benefícios para os envolvidos. Um morador de uma cidade pequena, por exemplo, pode estudar em uma grande faculdade e estagiar em uma metrópole. Dessa forma, os contratantes também ganham um leque maior de opções para preencher suas equipes. Nesse caso, não há necessidade do pagamento de auxílio transporte, pois não terá deslocamento.
Com o uso adequado da tecnologia, é possível formar times unidos, realizar a integração positiva de novos componentes, cuidar do emocional de todos e manter a alta produtividade. Para isso, basta ter equilíbrio. Promover conversas descontraídas, motivar o grupo, criar a sensação de pertencimento, utilizar dos canais de comunicação e promover encontros presenciais são algumas atitudes interessantes.
Nos últimos anos, o conceito de sucesso profissional foi ressignificado. As pessoas passaram a enxergar algumas questões com outros olhos e deixaram de valorizar apenas o fator financeiro e o status. Portanto, para os mais novos, só esses pontos não são suficientes para conquistá-los.
De acordo com uma pesquisa realizada em conjunto pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Geração Z (nascidos após 2001) não tem apego a altas remunerações. Para 42%, o mais relevante é ter felicidade na carreira, seguido pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, com 39%, enquanto 32% almejam reconhecimento.
Ou seja, os comandantes devem enxergar seu grupo como seres humanos, sem pensar só em números e resultados. É papel da organização criar um ambiente positivo e entender pensamentos, preferências, jeitos e histórias diferentes de cada um. Hoje, a conexão dos valores e cultura do empreendimento com os do candidato são levados em consideração na hora da busca por uma oportunidade.
É importante lembrar: os sujeitos estão ali para serem treinados, ensinados e preparados para a carreira. Portanto, acontecerão erros e por isso é obrigatório ter alguém experiente responsável por eles. Nesses momentos, o feedback é imprescindível para esses equívocos não se repetirem.
O chefe também deve incentivar hábitos corretos e explicar como funciona o cotidiano empresarial, pois a postura, apresentação, modo de falar, vestimenta e outras características fazem a diferença. Além disso, pode lapidar uma joia para, daqui algum tempo, se tornar um executivo e ocupar um alto cargo na corporação.
Costumo dizer também: o dinheiro não é mais o fator de decisão, mas continua bastante relevante. Logo, ofereça uma bolsa-auxílio condizente com a capacitação desejada e as tarefas a serem desempenhadas por esse integrante. Ainda, recompensas por bons resultados chamam a atenção. Folga, bônus, comissão, prêmios, tudo isso pode ser disponibilizado e conquistará o público.
Abra as portas do seu negócio para essa garotada cheia de vontade de aprender e mostrar seu potencial. Assim, além de fortalecer a sua equipe, você estará ajudando a economia e a educação do país. Conte com a Abres. Estamos juntos nessa caminhada!
*Carlos Henrique Mencaci é presidente da Associação Brasileira de Estágios – Abres
Comentários 0