No início desta semana, a equipe de Saúde Mental de Paranavaí apresentou para o Conselho Municipal de Saúde o “Plano Municipal de Prevenção, Atendimento e Posvenção ao Suicídio e Autolesão Provocada”. Depois de aprovado por unanimidade pelo Conselho, a primeira ação do Plano será a formação de grupos terapêuticos de posvenção para atendimento aos sobreviventes enlutados por um suicídio.
“A posvenção é todo cuidado prestado aos sobreviventes enlutados por um suicídio. Seus objetivos associam-se ao cuidado emocional, à prevenção de possíveis complicações do processo de luto e também à promoção da saúde mental. É um processo que engloba ações, atividades, intervenções, grupos de apoio, tratamentos, suporte e assistência para pessoas impactadas por um suicídio. Estes por sua vez, são chamados sobreviventes enlutados, ou seja, todos os indivíduos afetados ou que tiveram a vida mudada por um suicídio. Pais, filhos, irmãos, familiares, amigos, colegas, profissionais envolvidos na ocorrência da morte, demais membros da comunidade, todos eles podem ser alvos de uma intervenção de posvenção. Embora ainda pouco difundida no Brasil, a posvenção é uma ferramenta reconhecida mundialmente como um componente importante no cuidado da saúde mental dessas pessoas”, explica o coordenador do CAPS II de Paranavaí, Igor Neves.
A morte de uma pessoa amada pode ser devastadora. Além disso, quando o falecimento se dá por um suicídio, o luto é ainda mais profundo. Pensamentos como “Eu poderia ter feito algo para evitar”, assolam o indivíduo por completo, além de outros sentimentos e comportamentos comumente experimentados pelos sobreviventes como a culpa, a vergonha, a busca incessante por um motivo, os sentimentos intensos de responsabilidade, a rejeição e o abandono, as auto-acusações, o isolamento e mudanças na dinâmica familiar e a maior dificuldade em dar sentido para a morte. É neste sentido que as posvenções servem como uma ferramenta para trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda, prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto, minimizar o risco de comportamento suicida nos enlutados e promover resistência e enfrentamento em sobreviventes.
Segundo Igor Neves, “estudos demonstram diferenças significativas na intensidade, duração do luto, aumento de sintomas depressivos e impacto no sistema familiar nos sobreviventes do suicídio, se comparado com outras mortes violentas. Isso acontece porque, muitas vezes, amigos e familiares que, usualmente, dariam apoio e ajuda ao luto por outras causas, afastam-se e não sabem o que fazer, contribuindo ainda mais para a sensação de isolamento e abandono vivenciados pelos sobreviventes. Dessa forma, sem ajuda apropriada, esses indivíduos, especialmente as crianças, podem experienciar um luto traumático e complicado. Por isso é muito importante prevenir, quebrar tabus, construir redes de apoio, tratar, falar sobre o assunto, desmistificar e trabalhar na posvenção e na prevenção do suicídio”, frisa.
Em Paranavaí, os atendimentos de posvenção ao suicídio serão feitos em forma de grupos terapêuticos realizados uma vez por mês, na estrutura do CAPS II (Rua Pernambuco, 624 – Centro). Para mais informações, basta ligar para o telefone (44) 99149-0678.