REINALDO SILVA
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O déficit financeiro da Santa Casa de Paranavaí é grande, lamenta o diretor-geral do hospital, Héracles Alencar Arrais, que prefere não citar números. Até 2020, o fechamento das contas rendia saldos positivos, mas o cenário mudou com o advento da pandemia de Covid-19. O balanço foi negativo em 2021 e também deve ser assim em 2022. A diretoria tem buscado alternativas para vencer a dificuldade.
O desequilíbrio é explicado por uma série de fatores. Durante os dois anos de crise sanitária, a Santa Casa interrompeu as cirurgias eletivas, aquelas que podem ser programadas por não serem consideradas de urgência. Os procedimentos configuram uma das principais fontes de receita do hospital, que recebe recursos públicos para atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
A suspensão das cirurgias eletivas foi necessária para evitar o fluxo de pessoas dentro do hospital e, assim, reduzir a propagação do coronavírus. Além disso, parte dos leitos foi utilizada para as internações dos pacientes que apresentaram sintomas moderados ou graves da Covid-19.
Nesse período, a procura por insumos e medicamentos que abastecessem os hospitais explodiu em todo o mundo, e as indústrias não conseguiram acompanhar a demanda a contento. Com a escassez de produtos, os preços tiveram elevações significativas, e muitos ainda não normalizaram.
Para dar uma ideia da situação, Arrais cita o exemplo do soro, item utilizado na maioria dos procedimentos. “Estamos pagando 100% a mais do que no começo do ano.” O litro custava R$ 3,90 e agora é comercializado por R$ 8,66.
Foi preciso suspender alguns serviços que requerem maior quantidade de soro, caso das cirurgias eletivas de urologia. A paralisação já dura aproximadamente dois meses e atinge pacientes do SUS, conveniados e particulares, todos igualmente, acentua o diretor-geral do hospital.
Soluções – Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, o Governo Federal repassou R$ 3 milhões para a Santa Casa de Paranavaí, recurso específico para o enfrentamento da crise sanitária. A verba extra não veio em 2021, tampouco em 2022.
Sem qualquer fonte extra de arrecadação e diante da ausência do poder público, “estamos fazendo reduções, economias internas, ajustes financeiros”, conta Arrais. Semanalmente a diretoria se reúne em busca de uma solução definitiva para o problema, mas tem esbarrado na falta de possibilidades eficientes que proporcionem o reequilíbrio das finanças.
Há pouco mais de 10 dias, a Santa Casa lançou a campanha “Ajude a Santa Casa a manter as portas abertas”. Para participar, é preciso autorizar o débito na fatura da Copel do valor que deseja contribuir mensalmente. O valor mínimo é de R$ 20, com pagamento durante um ano e renovação automática se não houver manifestação contrária. Se durante esse período o doador quiser interromper a contribuição, basta fazer a solicitação.
A parceria com a Copel se repete em hospitais filantrópicos e santas casas de diferentes municípios. No Paraná, como em todo o país, o desequilíbrio financeiro é uma realidade preocupante.
Tão preocupante que ontem (10) o diretor-geral da Santa Casa de Paranavaí viajou a Curitiba para uma conversa com representantes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). “Queremos encontrar junto com o Governo formas de contornar a situação. Estamos buscando clarear alguma coisa”, diz Arrais.
Preocupação – O diretor-geral da Santa Casa manifesta preocupação quanto à folha de pagamento de novembro e dezembro, meses em que são acrescentadas as parcelas do 13º salário dos quase 700 funcionários. Arrais sugere até mesmo fazer empréstimo, a fim de garantir os valores devidos a toda a equipe. Por enquanto, o pagamento dos funcionários está em dia, mas, ao mesmo tempo, a diretoria tem contado com a compreensão dos médicos por eventuais atrasos.
Da mesma forma, a diretoria do hospital faz renegociações com fornecedores, apostando no histórico de 20 anos de compromissos honrados, sem dívidas.