REINALDO SILVA
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O medo tomou conta de Deolinda de Jesus Matos Barradas. No momento em que descobriu o câncer na mama direita, ela entrou em choque e imaginou que não teria outra saída senão a morte. Pensou nas dificuldades que enfrentaria e comparou a própria situação com a de uma irmã que morrera recentemente, depois de 13 anos de luta contra a doença. Sempre foi muito positiva, mas a notícia que recebeu naquele instante provocou um verdadeiro abalo emocional.
A história da professora aposentada, hoje com 66 anos, aconteceu há quase duas décadas. Ela recebeu o diagnóstico após fazer um exame de rotina e, inicialmente relutante, aceitou fazer o tratamento. Foi submetida a seis sessões de quimioterapia e 33 de radioterapia, processo que se estendeu por nove meses. “Passei muito mal, porque os procedimentos são muito agressivos.” Os temores se concretizaram: os cabelos caíram, os aspectos físicos passaram por transformações, a rotina mudou. Mas, apesar de todos os percalços, ela seguiu até o fim.
A professora Deolinda é um entre milhares de exemplos de mulheres que superaram o câncer. Graças à identificação precoce, os tratamentos tiveram eficácia completa. “Depois de 18 anos, estou saudável e tenho uma vida normal”, diz a professora aposentada, moradora de Paranavaí. Ela faz os exames preventivos anualmente, mantém a alimentação balanceada e pratica atividades físicas.
O medo e o sofrimento deram lugar à força. Deolinda é voluntária da Associação dos Portadores de Doença Especial (APDE), faz visitas a pacientes com câncer, conversa com familiares, incentiva, prega a perseverança. A professora aposentada reforça a importância de cuidar da saúde e fala sobre a necessidade de fazer os exames preventivos, evidenciados pela campanha Outubro Rosa, que chama a atenção para os cuidados em relação ao câncer de mama e de colo do útero.
Outubro Rosa – Ao longo deste mês, Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de todo o Noroeste do Paraná intensificaram as ações voltadas à população feminina, com orientações e maior oferta de consultas e exames. Em Paranavaí, 11 UBSs estarão abertas neste sábado (23) em horário especial: Campo Belo – das 7h às 15h; Panorama e Coloninha – das 8h às 14h; e Celso Konda, Ouro Branco, Monte Cristo, Morumbi, Maringá, José Eloy, Sumaré e 3 Conjuntos – das 8h às 16h.
“Temos uma boa procura, mesmo sendo com horário agendado”, informa a enfermeira Mariana Salvadego Aguila Nunes, coordenadora do programa Saúde da Mulher e da Criança de Paranavaí. De 1º a 22 de outubro foram coletados 1.113 exames citopatológicos de colo uterino e solicitadas 600 mamografias.
A média mensal de 2021 é de 416 exames, mas se trata de um ano atípico, em razão da pandemia de Covid-19. A título de comparação, em 2019 Paranavaí teve 6.257 coletas, já em 2020, portanto em um cenário com a disseminação do coronvaírus, o número caiu para 4.270. De acordo com a coordenadora do programa Saúde da Mulher e da Criança, nos momentos mais críticos da doença as ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças precisaram ser interrompidas.
Mesmo com a pandemia em momento descendente, a Secretaria Municipal de Saúde adotou algumas regras para evitar a transmissão da Covid-19. “Estamos tomando todas as medidas de precaução dentro das unidades”, Mariana Salvadego Aguila Nunes. Ela destaca que os pacientes com sintomas respiratórios são acolhidos exclusivamente na UBS Centro, ou seja, as pessoas que vão até as demais UBSs não correm riscos, informa.
A doença – Quatro a cada cinco casos de câncer de mama são diagnosticados em mulheres acima dos 50 anos, sendo o tipo mais frequente entre o público feminino, seguido do câncer colorretal e do colo do útero.
Coordenadora regional da Saúde da Mulher, a enfermeira Natalia Paszczuk aponta alguns sinais que identificam o câncer de mama: nódulo palpável, geralmente fixo e indolor; saída espontânea de líquido anormal pelo mamilo; retração ou alteração na forma do mamilo; aumento progressivo do tamanho da mama; e nódulos nas axilas ou pescoço.
A orientação é observar e apalpar as mamas durante o banho ou quando for trocar de roupas. A própria mulher pode perceber os sinais da doença. Diante de qualquer alteração, é fundamental buscar ajuda médica.
No caso do câncer de colo do útero, os quadros mais agravados podem resultar em sangramento vaginal intermitente, sangramento após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais.
Prevenção – Mariana Salvadego Aguila Nunes, coordenadora do programa Saúde da Mulher e da Criança de Paranavaí, explica que existem faixas etárias preconizadas pelo Ministério da Saúde para fazerem os exames frequentemente. No caso do câncer de mama, de 50 a 69 anos. Em relação ao câncer de colo uterino, 25 a 64 anos. “O ideal é que a mulher procure o serviço sem queixas”, diz, referindo-se a sinais e sintomas. “São exames que visam à prevenção e portanto ela deve realizar todos os anos para rastrear alguma alteração”, acrescenta a coordenadora do programa Saúde da Mulher e da Criança.
Ela reforça que em outubro os serviços são intensificados, mas os exames são oferecidos durante todo o ano. “As equipes estão preparadas para atender com segurança.” Significa que as mulheres que não conseguirem agendamento ao longo deste mês podem – e devem – se dirigir à UBS mais próxima de casa em novembro, dezembro, janeiro…
A mensagem da professora aposentada Deolinda de Jesus Matos Barradas é que as mulheres não tenham medo de fazer os exames. Se o câncer for detectado no início, é possível vencê-lo, reitera. A dica que dá é enfrentar a situação com coragem, sem abrir mão do apoio de outras pessoas. Ela recorda que tentou esconder a doença dos familiares, no entanto, os efeitos do tratamento deixariam a doença evidente. Quando contou sobre o diagnóstico, foi amparada e renovou as esperanças para não desistir.