Quando a vida nos surpreende
É interessante observarmos como fatos nos acontecem, mudando totalmente o rumo das nossas vidas.
Fatos bons, tristonhos, fatos que nos abalam.
Também existem outros não estrondosos, que nos levam a alterar nossa maneira de pensar. Sobretudo, a aprendermos a não julgar nada, nem ninguém, na primeira olhadela.
Sabemos disso, mas parece irresistível, não é mesmo? Vemos alguém, medimos de alto a baixo e pronto: já fizemos a nossa análise e desenhamos o seu retrato.
Antes mesmo da pessoa abrir a boca, a julgamos.
Isso nos lembra de quatro amigos, que gostavam de sair juntos para festas, passeios, caminhadas, tardes de sábado.
Em certo final de semana, resolveram acampar. Aprontaram suas mochilas com tudo que, na sua inexperiência, acreditaram seria importante para uns dois dias.
Em local afastado da cidade, próximo a um rio, montaram a barraca.
À noite foram surpreendidos pela chuva. O aguaceiro, que desabou torrencial, revelou-lhes a total falta de preparo: o rio subiu de nível muito depressa, a enxurrada desceu com intensidade e a barraca, colocada num declive, se encheu de água.
Ao amanhecer, preparando-se para voltar para casa, após o passeio mais que frustrado, descobriram que nada tinham para o café da manhã.
Tudo havia sido levado pela inundação da madrugada.
Ao longe, viram uma casa, pobre, com a pouca pintura bastante descascada.
Um dos rapazes propôs que fossem lá pedir algo para ingerirem.
Se formos – disse outro – o risco é os donos da casa nos pedirem ajuda. Olhem o estado da casa: não devem ter nada.
Enfim, um deles decidiu ir até o casebre.
A jovem senhora, que o atendeu, ouviu o relato do ocorrido na noite anterior, que precisavam algo para comer, antes da caminhada de volta para a cidade.
Ela perguntou quantos rapazes compunham o grupo. Depois, pediu que ele aguardasse.
E desapareceu no interior da casa.
Impaciente, o jovem voltou ao local do acampamento. Começaram a organizar as mochilas.
O jeito mesmo era andar, para chegar na estrada e, quem sabe, encontrar um local, não muito distante, em que pudessem obter algum alimento.
Então, viram uma menina que vinha ao encontro deles. As roupas estavam gastas, conquanto perfeitamente limpas. Nos pés, chinelinhos de cores diferentes.
Trazia, nas mãos, pequena bandeja, com um bule e quatro copos, de diversos tamanhos. Ao lado, quatro biscoitos, um para cada um deles.
A emoção tomou conta daqueles moços.
A dona da casa havia lhes enviado o que de melhor poderia ofertar. Talvez, tudo o de que ela dispunha, organizado em perfeita apresentação.
Tomaram o café quente, agradeceram à pequena portadora, que saiu feliz por cumprida sua missão.
Retomaram a estrada, pensativos.
Havia sido mesmo um grande passeio.
Tinham encontrado alguém que jamais os vira, nunca mais tornaria a vê-los e, no entanto, os havia tratado, não como forasteiros, mas, como pessoas que batem à porta, pedindo auxílio.
Ela não perguntou de onde vinham, para onde iriam depois. Nem disse de como deveriam ser mais previdentes e cuidadosos.
Apenas deu o melhor que tinha.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 25, do livro
52 lições inesquecíveis, de Patrícia Carvalho Saraiva Mendes,
ed. FEP.
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