Quando as notícias nos chegam de que o Estado do Paraná registra um enorme salto nos casos de suicídio, nos últimos seis anos, sentimo-nos chocados.
Verdade que tivemos um grave problema pandêmico, que abalou estruturas familiares, de empresas, da sociedade, em geral.
Tivemos que nos reinventar como familiares, como profissionais, como seres humanos.
Sim, existe muito luto, desconforto, alterações profundas na vida de muitos de nós.
No entanto, lembramos dos que estiveram nos campos de concentração e lutaram, em condições subumanas, para sobreviver.
E, depois dos horrores vividos, recomeçaram suas vidas. Mais do que isso, falam de amor e respeito à vida.
O que nos faz, então, termos tal descaso por esse bem inigualável, que se chama vida, nos levando à terrível estatística de um suicídio a cada doze horas?
Por que desistir de viver? Muitos fogem da vida porque pretendem com isso acabar com a dor das perdas, do abandono, da solidão…
Por isso, é justamente nas páginas de uma heroína que vive na capital paranaense, que colhemos dados sobre perdas… e ganhos.
Jovem, bonita, culta, ativa, advogada por profissão, aos quarenta e um anos sentiu os primeiros sintomas da Esclerose Lateral Amiotrófica – ELA.
Trata-se de uma síndrome neurodegenerativa, progressiva e incurável.
Começou com fraqueza, paralisia dos membros superiores e inferiores. Depois, a incapacidade de falar, de deglutir e de respirar.
Onze anos depois do diagnóstico, Maria Lúcia Saldanha vive. Comanda a casa, a família e a vida. Apenas com o olhar, graças a um programa especial de computador.
Presa a uma cadeira de rodas, alimentada por sonda gástrica e ligada a um ventilador mecânico para poder respirar, Maria Lúcia vive.
Quando lhe chegou o diagnóstico, ela poderia ter simplesmente se entregado ao desenrolar drástico da enfermidade, que conduz à morte, num período máximo de dois a cinco anos.
Ela optou por lutar. Lutar para viver. Lutar para ver seu filho se formar, na Marinha Mercante. Mesmo que não o tenha podido abraçar senão com o coração, desde que os braços não lhe obedecem ao comando da vontade.
Por isso, onze anos depois, ela continua lecionando experiências de vida.
Ela sai de casa, passeia com sua cadeira de rodas especial na canaleta do ônibus expresso, porque o trepidar da cadeira, em nossas calçadas, a maltrata em demasia.
Ela usa táxi, ônibus, vai ao shopping. Foi ao Rio de Janeiro para a formatura do filho.
Um exemplo de vida. Escreveu sobre suas experiências com a ELA, incentivando a outros que não se permitam abater.
Viver é uma experiência que não deve ser desconsiderada.
Maria Lúcia escreve que, desde 2010, perdeu os movimentos dos dedos, das mãos, dos braços.
Perdeu a capacidade de andar. Perdeu o equilíbrio, a fala, a capacidade de comer, de respirar sozinha.
Mas confessa: Perdi muito mais do que isso, perdi o desespero, a impaciência, o desânimo, o egoísmo.
Perdi a inveja, o orgulho, a ganância.
Por fim, perdi a raiva.
Então, concluo que foram muitas perdas. Também muitos ganhos.
Reflitamos. Vale a pena viver. Vivamos!
Redação do Momento Espírita, com base no Prefácio e no
cap. Perdas, do livro A vida é bela – Como aprender com ELA,
de Maria Lúcia Wood Saldanha, ed. da autora.
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