Seja de forma física, verbal, psicológica, moral, sexual ou financeira, se qualquer um destes tipos de violência estiver presente em uma relação amorosa, você pode caracterizá-la como tóxica ou abusiva.
A psiquiatra Aline Sabino, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, esclarece que, em geral, o prejuízo causado pelas relações tóxicas é de ordem psicológica, enquanto relacionamentos abusivos podem causar danos psicológicos e físicos nas vítimas. “Mas é importante lembrar que ambas são perigosas e uma relação tóxica pode vir a se tornar abusiva com o tempo.”
Conforme Natália Reis Morandi, psicóloga que também atua no Hospital São Camilo SP, casos de comportamentos tóxicos entre casais podem ser mais comuns do que se imagina, pois a vítima se vê envolvida emocionalmente e sua capacidade de discernimento daquela situação pode ser prejudicada, gerando dificuldade de compreensão e associação que esta é a possível causa de seu sofrimento.
“Exceto em situações em que há violência física, muitas vezes, os sinais não são claros à vítima, principalmente no começo do namoro onde tudo parece perfeito”, ressalta.
De acordo com a especialista, entre os danos causados por uma relação tóxica estão a perda da confiança, insegurança, ansiedade, quadros depressivos e queda na autoestima, sintomas que afetam a vida do indivíduo como um todo, podendo prejudicar suas relações familiares, situação financeira e até mesmo sua rotina profissional.
O assunto, que ganha repercussão cada vez maior na mídia, serve de alerta a todos, sobretudo nesta época do ano. “No Dia dos Namorados, as pessoas tendem a fazer grandes demonstrações de amor, o que é muito positivo. Porém, é necessário levar em conta todo o contexto da relação, uma vez que tais declarações podem mascarar comportamentos abusivos ou tóxicos”, afirma Natália.
Por que é tão difícil reconhecer que se está em uma relação tóxica? A psicóloga destaca que uma das principais características de um parceiro tóxico é a habilidade de manipular o outro. “Muitas vezes, a vítima é envolvida com manifestações exageradas de afeto, mimos e gestos românticos, o que vai gerando uma dependência emocional, sentimento de culpa, confusão e incerteza em momentos que surgem situações de violência emocional.”
Além deste tipo de manipulação, outros sinais podem ajudar a identificar uma pessoa tóxica, conforme as especialistas do São Camilo:
Comunicação difícil – Uma pessoa com comportamentos tóxicos irá se beneficiar da instabilidade emocional gerada no seu parceiro ou parceira.
Natália lembra que brigas e desentendimentos podem acontecer em qualquer relacionamento, porém quando estão presentes comunicações agressivas, manipulações, controle excessivo, desconfiança e dificuldade de se responsabilizar por parte do parceiro(a), este pode ser um sinal de alerta.
“Tais situações podem aumentar a insegurança e a ansiedade da vítima, que procurará formas de se entender, se reconciliar e até mesmo aceitar condições em que não se sente confortável ou evitar assuntos para não gerar mais brigas”, explica.
Não assumir erros e responsabilidades – As especialistas destacam que um comportamento tóxico clássico é culpar o outro quando algo não vai bem.
“Para quem está iniciando um relacionamento é importante observar se a pessoa tem dificuldade de se responsabilizar pelo que faz, pedir desculpas quando não evidencia um benefício a si mesmo e se costuma depositar no outro os motivos de seu insucesso, culpando terceiros o tempo todo”, indica a psicóloga.
Isolamento e apatia – O excesso de crítica, ciúmes e controle do parceiro pode levar a vítima a se sentir intimidada e em constante alerta para evitar novos conflitos. Em alguns casos, passa a evitar manter contato com seus grupos sociais, deixa de praticar atividades de lazer que antes eram importantes para o seu bem-estar, se isola e mantém a companhia apenas do parceiro(a), o que gera sentimento de impotência, impacto em sua autoestima e no seu autocuidado, o que traz prejuízos para a sua qualidade de vida.
De acordo com Dra. Aline, estes são sinais claros de que a relação está sendo prejudicial em um grau perigoso, pois já deteriora a saúde mental da vítima. Portanto, ela recomenda ter atenção a pequenos detalhes, ainda no começo da relação, como:
– A pessoa sutilmente critica ou demonstra não gostar dos seus amigos
– Se mostra ciumento e/ou controlador sobre suas roupas, maquiagem, cabelo ou sobre a maneira como você fala com outras pessoas
– Quando você quer fazer algo que gosta, a pessoa ridiculariza ou não demonstra interesse
Natália salienta que todo relacionamento pode ter seus desafios e ajustes ao longo do tempo. No entanto, uma relação saudável deve ser leve e agradável, onde o que prevalece são os pontos positivos para ambos. “Quando os pontos negativos superam as coisas boas da vida a dois e não há apoio e respeito às individualidades do outro, deve-se redobrar a atenção, lembrando que quando há sofrimento emocional significativo em um relacionamento amoroso, é importante buscar acompanhamento psicológico.”
A psiquiatra reforça ainda que é importante procurar ajuda profissional quando se está numa relação em que predomina o sentimento de culpa e medo. “Muitas vítimas de relações tóxicas e abusivas podem desenvolver transtornos mentais, aumentando o risco para o abuso de substâncias como álcool e drogas.”
Segundo ela, estes problemas podem ser agravados pela sensação de impunidade e falta de orientação e apoio para sair da situação. “Ações de acolhimento às vítimas e de conscientização sobre como agem as pessoas tóxicas podem salvar a vida de muitas pessoas que vivem relações abusivas”, finaliza.