Nos primeiros dias depois da ressurreição, antes de Jesus subir para destra do Pai, ele recomendou que: deveriam demorar-se em Jerusalém “até que o Consolador viesse ter com eles.” Qual o propósito desta espera? Para que tivessem a sabedoria, a orientação e o poder do Consolador, a fim de se tornarem testemunhas tanto em Jerusalém como em outros pontos cada vez mais distantes, cumprindo a ordem de Jesus que lhes disse: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mt 28,19)
A ação do Espírito Santo aparece em toda a História da Salvação: Na criação: “quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas…” Na missão dos profetas, sacerdotes e reis, ungidos para a missão. Mas Deus prometera, por meio dos profetas, que nos últimos tempos derramaria o seu Espírito sobre os seus servos e servas para que recebessem o dom da profecia. (Joel 3,1-5). Por isso o Espírito Santo desceu sobre o Filho de Deus, que se fez Filho do Homem, ungindo-O para a missão: “e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea de uma pomba…” (Lc 3,22)
O Espírito unido a Jesus aprendeu a conviver com o gênero humano, repousando e morando com eles e levando-os a passar da velha para a nova Vida.
O Espírito de Deus desceu sobre o Senhor como: “…Espírito de Sabedoria e discernimento, Espírito de Conselho e Fortaleza, Espírito de Ciência e de Temor de Deus” (Is 11,2).
Este mesmo Espírito foi dado aos discípulos, que eram simples pescadores sem muito entendimento, medrosos. Que oportunidades teriam aquelas pessoas iletradas e ignorantes contra a entranhada tradição judaica e as águias formidáveis do poder romano? Que futuro teria o Cristianismo? Mas Jesus tinha um plano: os discípulos tornarem-se o Corpo de Cristo na terra. Continuar a sua ação salvífica: “…mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.” (At 1,8)
São Lucas nos diz que esse Espírito, depois da Ascensão do Senhor, desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de dar a vida nova a todos os povos e de fazê-los participar da Nova Aliança. O Pentecostes marca o dia do nascimento da Igreja.
A partir desse dia, o Espírito Santo recebeu um cargo novo. A administração de cada detalhe da Igreja foi colocada em suas mãos. O Plano era: DA ASCENSÃO À SEGUNDA VINDA, JEUS SERIA O NOSSO PARÁCLITO NO CÉU. “O CABEÇA SOBRE TODAS AS COISAS”. O Espírito seria nosso Paráclito na terra, a fim de administrar e ordenar a “EDIFICAÇÃO DO CORPO DE CRISTO” – A IGREJA.
A comunhão e os dons do Espírito Santo só podem ser dados e experimentados pela comunhão dos cristãos na Igreja, e nunca pelo cristão individualmente.
O Espírito Santo derramado, transformou, santificou, formou, convocou e enviou homens e mulheres ao longo dos tempos para a missão.
Jesus, o Deus encarnado na história, assume definitivamente o clamor da humanidade que, na cruz se eleva do meio da escuridão como grito em forma de pergunta a Deus: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”.
O Espírito Santo mesmo depois da Morte-Ressurreição de Jesus continua chamando “com gemidos inefáveis.” (Rm 8,26). Seus gemidos incorporam o grito de toda criação que: “geme e sofre as dores de parto.” (Rm 8,22).
O mesmo Espírito de Deus continua chamando-nos hoje, do mesmo modo como chamou as lideranças nas primeiras comunidades cristãs. O clamor acolhido como voz do Espírito presente nas comunidades, muda a compreensão da missão e muda a rota do caminho.
O Espírito Santo faz hoje a Igreja ler “os sinais dos tempos”, os desafios da missão, ele desinstala, quebra estruturas, inquieta: “é como o vento”, ninguém sabe de onde vem e para onde vai.
“Que o Espírito abra nossos ouvidos tornando-nos capazes de auscultar os gemidos do Espírito” hoje, discernindo o rumo do caminho que devemos tomar, “para consolar os que estão desanimados, confortar os que estão aflitos e abatidos”.
“Portanto”, quem suplica “vem Espírito Santo” deve também estar preparado e disposto para pedir “Vem e me incomoda onde devo ser incomodado, vem e me desinstala onde devo ser desinstalado, vem e me desestrutura onde devo ser desestruturado, vem e me desconstrói onde devo ser desconstruído”.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.